Obras do IEB na 2a Bienal de Orleans [2ème Biennale d’Architecture d’Orléans]

Foto: 2ème Biennale d’Architecture d’Orléans

Introdução

Com a chegada do Acervo de Flávio Império ao Instituto de Estudos Brasileiros, as demandas de pesquisa para este material prontamente se iniciaram. Assim, a Coleção de Artes Visuais num esforço coletivo entre seus membros se apossou da lógica da organização utilizada pela Sociedade Flávio Império, quem primeiro organizou todo o material desta importante figura para o cenário cultural brasileiro, e se organizou para que os curadores responsáveis pelo eixo da Arquitetura Nova da 2ème Biennale d’Architecture d’Orléans – Abdelkader Damani e Davide Sacconi – pudessem realizar sua pesquisa, que ocorreu em janeiro de 2019. Desde então, foram mantidas conversas que culminaram na mostra que ocorre na Collégiale Saint-Pierre-le-Puellier. O acervo não está totalmente acondicionado e disponível, contudo o IEB entendeu a relevância da proposta deste grupo de trabalho e se prontificou a reconhecer no acervo os itens que fossem relevantes.

Curadoria

Entre 1961 e 1971, a colaboração entre Sérgio Ferro, Flávio Imperio e Rodrigo Lefèvre – grupo posteriormente apelidado de Arquitetura Nova – produziu um conjunto excepcional de trabalho: experimentos em pintura, teatro, pedagogia, técnicas de construção e organização do canteiro de obras que reinventou o papel do arquiteto dentro de um Brasil sob construção.

Foto: 2ème Biennale d’Architecture d’Orléans

Experimentando em primeira mão as brutais condições de trabalho por trás das curvas suaves de Brasília, Sérgio Ferro, Flávio Império e Rodrigo Lefèvre rejeitaram a falsa esperança de industrialização e a decepção de um meio livre aberto e estética democrática prometida pelo modernismo. Em vez disso, Arquitetura Nova, desafiou a própria ideia de desenvolvimento abraçando a condição existente de produção e subvertendo as hierarquias do canteiro de obras.

Desfocando os limites entre projetar e construir, desenhar e atuar, aprender e ensinar, a Arquitetura Nova desenhou um manifesto de solidariedade, compartilhando as técnicas de construção popular como instrumento contra a exploração e alienação do trabalhador da construção civil. Edifícios tornaram-se a construção de uma vida possível juntos. Esses sonhos tornaram-se impossíveis após o golpe militar de 1964, que desenvolveu em larga escala o crescimento urbano e a violência, a repressão às pedras angulares do Estado brasileiro após essas duas décadas.

Foto: 2ème Biennale d’Architecture d’Orléans

O trabalho do Arquitetura Nova será apresentado pela primeira vez em uma seleção de desenhos, imagens e textos dos acervos da FAU/USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – Universidade de São Paulo), IEB/USP (Instituto Brasileiro de Estudos – Universidade de São Paulo) e o arquivo pessoal de Sérgio Ferro. Contudo a exposição transcende a dimensão histórica da obra, Interrogar o valor da abordagem da Arquitetura Nova contra o atual cenário político-econômico brasileiro e mundial. Nessa perspectiva, o fim abrupto da arquitetura Nova com a prisão de Sérgio e Rodrigo em 1971 encontra um contraponto na coleção de obras de arte produzidas no atelier organizado por Sérgio Ferro durante a prisão.

O desejo do ateliê de reformar radicalmente as práticas de construção é ecoado no trabalho da Usina_Ctah, uma ONG de arquitetos que apoiaram os movimentos habitacionais na construção habitações cooperativas desde 1990. Juntos, eles reafirmam a urgência de repensar as hierarquias entre trabalhar e viver.

Davide Sacconi

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