Exposição: Traço compassos – Mário de Andrade em caricaturas

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Traço|Compassos

Mário de Andrade em caricaturas

Ao realçar traços fisionômicos ou características do retratado, instaurando o cômico e sua potência crítica, a caricatura instiga a imaginação do observador. Linhas sumárias de alta voltagem expressiva, tanto consagram, quanto devastam reputações, valores, ideias. A caricatura, arte e gesto pedagógico, humor e prática política, espelha a liberdade de expressão como anseio inalienável do convívio democrático.

Como outras personalidades da cultura brasileira, o escritor Mário de Andrade (1893-1945), tem recebido, ao longo do tempo, homenagens de caricaturistas, sinalizando a amplitude e o sentido da permanência de suas proposições intelectuais e estéticas, de sua atuação em projetos de largo espectro na esfera pública. Setenta anos depois de sua morte ainda repercutem a densidade de suas reflexões sobre a realidade brasileira, o seu pensamento radical acerca do lugar do artista e do intelectual na sociedade, bem como as frutíferas proposições críticas espalhadas em sua obra lírica, ficcional, ensaística e em sua vasta correspondência.

Mário de Andrade reuniu em seu acervo um bom número de desenhos que o representam, obras pertencentes ao patrimônio do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo, desde 1968. Juntou-se a essas caricaturas, em 1998, no setor de Artes Visuais da mesma unidade de integração universitária fundada por Sérgio Buarque de Holanda, a valiosa coleção de desenhos doada pelo funcionário público carioca Carlos Alberto Passos (1923-2008), grande admirador do polígrafo modernista.

As caricaturas expostas em Traço|Compassos, assinadas por nomes da grandeza de Nássara, Millôr Fernandes, Paulo Cavalcanti, Antonio Paim Vieira, Hilde Weber, José Corrêa Moura, Nicolielo, Hippert, Baptistão e outros, ao mesmo tempo que restituem facetas de Mário de Andrade em suas “trezentos-e-cinquenta” inquietações e afazeres, em seu efusivo gosto pela vida, traduzem as formas como esses artistas plásticos, leitores da contemporaneidade, leram os (des)compassos da nossa história, quando se empenharam em trazer à tona, em inventiva expressão pictórica, o legado do escritor.

Os célebres aros redondos dos óculos de Mário de Andrade, o queixo proeminente, o largo sorriso dentuço, a indisfarçável calvície, o apuro no vestir-se, fixados em grafite, lápis de cor, nanquim, guache e outros processos gráficos, atraem ludicamente o nosso olhar. Essas imagens nos levam até a multifária curiosidade intelectual desse homem de letras, no desassossego com que intentou escrever o nosso país. Ilustram bem os versos de Manuel Bandeira, em Mafuá do malungo: “Brasil/ Como será o Brasil?/ Mário de Andrade”.

 

Marcos Antonio de Moraes