No dia 17 de dezembro de 2024,terça-feira, às 14hs00min, será realizada a Defesa de Dissertação de Mestrado da pós-graduanda Gabriela Ferreira e Silva, sob a orientação da Prof. Dr. Luciana Suarez Galvão, intitulada “EU VENHO DE LÁ TÃO LONGE: estórias de Marias e suas tecnologias do cuidado”
Resumo: O bailinho, o mel de cana, o vinho, o brinquinho, o bolo do caco, o bordado. Em um primeiro instante, a ilha da Madeira pode parecer apenas mais um lugar distante, turístico e folclórico. Mas, esta pequena porção de terra, singular em natureza e costumes, guarda alguns segredos que muito podem nos interessar nestes nossos tempos de grossura. A começar pela possibilidade da nossa realidade atual de colapso ecológico ter sido concebida e gestada ali há muitos séculos. A divisão e posse de grandes extensões de terras para indivíduos das elites, o desmatamento voraz da paisagem natural para o desenvolvimento do sistema de plantation e a concepção da escravidão moderna foram práticas predatórias testadas primeiro na Madeira e, posteriormente, exportadas e expandidas para este lado do Oceano Atlântico, dando origem ao Capitaloceno, esta nossa era de desastres naturais endereçados ao planeta por uma parcela específica da humanidade (PATEL e MOORE, 2019). Nesta pesquisa, fiaremos, num movimento espiralado, pequenas estórias em grandes histórias. Na primeira parte, voltaremos lá para longe, guiadas/os por uma entidade madeirense emblemática; navegaremos pelas histórias da ocupação da ilha pela coroa portuguesa, da formação do povo madeirense, seus ofícios e saberes — em especial sobre o intrigante bordado típico da região — e das consequências de intensas intervenções no espaço e na sociedade insulares que culminaram em sucessivos processos de migração de sua população empobrecida. Na segunda parte, tomaremos o vapor rumo a São Paulo, destino popular entre imigrantes no século XX, e percorreremos alguns bairros da Zona Norte da capital paulista em busca de estórias da diáspora madeirense, sobretudo, estórias de mulheres que encontraram no bordado da Madeira maneiras de se manterem enredadas à terra natal e de costurarem poderosas teias de apoio entre si para a ocupação, estabelecimento e subsistência de suas famílias em seus novos lares além-mar, emaranhando-se à história da cidade e de suas paisagens cimentadas. Por fim, na terceira parte, mergulharemos mais a fundo em alguns saberes ancestrais típicos dessas mulheres e de suas antepassadas camponesas, compreendidos aqui como manifestações de tecnologias do cuidado (PÉREZ-BUSTOS, 2021; VOLKART, 2017), desvendando com mais atenção os tormentos do linho e algumas técnicas do bordado da Madeira. Passaremos também pelo plantar como resistência, pela forjadura do milagre do pão e pela magia de se contar e ouvir estórias durante todos esses trabalhos coletivos, buscando nessas outras formas de relação com a terra e com a produção de subsistência — também concebidas e gestadas por lá, mas em outros padrões de temporalidade (TSING, 2022) — o que Ailton Krenak chama de ideias para adiar o fim do mundo.
Onde: Sala 7, 2º andar do IEB
Quando: 17 de dezembro, terça-feira, às 14h00