FLT 5136 – A Obra de Osman Lins à Luz do Arquivo e da Crítica Literária, em Perspectiva Interdisciplinar

Profs. Drs. Sandra Margarida Nitrini e Marcos Antonio de Moraes

Início em: 13/03/2024

4º feira | das 14h00 às 18h00

Oferecimento Híbrido

 

Objetivo:

A disciplina se propõe a apresentar, aos estudantes dos Programas de Pós-Graduação de Teoria Literária e Literatura Comparada da FFLCH e do IEB da USP e de outras áreas das humanidades, uma parte importante da obra de Osman Lins, desde a fase de sua autoformação e de preparação de seus escritos (manuscritos e cartas, material guardado no Fundo Osman Lins do IEB e na Casa de Rui Barbosa) até seus artigos, ensaios e obras de ficção, que lhe asseguram um lugar de destaque na Literatura Brasileira, como criador e crítico, da segunda metade do século XX. Com esta proposta de mergulho nos escritos de Osman Lins (inéditos e publicados) numa perspectiva analítica e crítica, um outro objetivo é o de colocar os estudantes em contato com diferentes abordagens de sua obra, permitindo-lhes acesso a uma variedade de possibilidades de leitura, embasadas em diversas teorias e campos de saber, o que é válido para o processo de formação no nível da pós-graduação.

Conteúdo (Ementa)

1. Osman Lins: Fundo Pessoal, crítica literária, interdisciplinaridade (Marcos Antonio de Moraes, Elisabete Marin Ribas, Frederico Antonio Camilo Camargo). IEB. Inauguração do curso com a apresentação dos três eixos que sustentam a proposta de seu programa e articulam a arquivística com os estudos literários.

2. Noite profunda e Os espelhos. Estudo genético e estabelecimento do texto do primeiro romance de Osman Lins. (Eder Rodrigues) Pós-Doutor/IEB. Esta aula visa apresentar o estabelecimento dos textos de Noite profunda e Os espelhos, títulos que formam o romance inédito de Osman Lins escrito entre 1945 e 1953. A fixação do texto foi realizada a partir da constituição de um dossiê com documentos prototextuais presentes no arquivo do escritor no Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo e na Fundação Casa de Rui Barbosa. A análise dos documentos à luz da crítica genética destaca o trajeto da criação da obra, compreendendo as versões, as etapas, as operações de escritura, a visualização de procedimentos temáticos e estilísticos, adotados por Osman Lins no início de sua carreira de escritor, aspectos que evidenciam como este primeiro exercício reorienta a elaboração de sua escrita literária.

3. Osman Lins e Hermilo Borba Filho: uma grande amizade epistolar. (Nelson Luís Barbosa). Pós-Doutor / IEB. A aula pretende refletir sobre o estabelecimento de texto das cartas trocadas entre os amigos – considerando o cotejamento entre o dossiê preparado por Julieta de Godoy Ladeira e os originais depositados na Casa de Rui Barbosa –, a pesquisa para identificação de nomes, lugares citados, como também fatos e eventos referidos, o que permite a leitura dos textos em pelo menos três instâncias inter-relacionadas: a realidade de cada escritor, seus objetivos, sonhos e problemas literários ou editoriais, nas cartas; a realidade pontual que os abrangia composta nas notas em rodapé; o conhecimento das questões históricas, políticas e sociais de seu tempo, vivido sob uma ditadura civil-militar com todas as suas consequências na vida dos brasileiros.

4. A epistolografia do jovem Osman Lins em diferentes aspectos: criação, crítica e circulação literárias. (Sandra Nitrini). FFLCH/USP. Partindo da análise de um conjunto de cartas do jovem Osman Lins, que se dividia entre o trabalho no Banco, suas críticas publicadas nos jornais e a escrita de seus contos, pretendo mostrar como essas missivas revelam seu processo rigoroso de autoformação para se lançar como escritor, sua noção de que a crítica deve ser regida pelo conhecimento da linguagem literária e respeito aos criadores e, finalmente, seu olhar atento para a importância da circulação da obra. Corpus: cartas para o escritor Renard Perez (1928-2015).

5. Intervalos da escritura: a crítica osmaniana. (Odalice de Castro e Silva). UFC. Proponho algumas reflexões a respeito de exercícios de crítica de literatura escritos por Osman Lins (1924 – 1978) sobre textos de Graciliano Ramos (1892 – 1953) e Clarice Lispector (1920 – 1977), com destaque para o tratamento espácio-temporal, operado pelos escritores na realização das obras em perspectiva.

6. A experiência de desdobrar o ensaio Guerra sem testemunhas: o escritor, sua condição e a realidade social, de Osman Lins. (Darcy Attanasio). Doutora/USP. O ensaio é um gênero de fronteira entre a literatura e a filosofia que, por isso, se presta a aplicação de múltiplos recursos. Dessa maneira, em Guerra sem testemunhas…, o escritor pernambucano Osman Lins articula seus engenhos literários com maestria, que intriga por sua forma e o seu conteúdo. Passar pela experiência de desdobrar essa obra é compartilhar com o autor de suas questões sobre o mundo daquele que escreve e de muito do que o envolve.

7. Lima Barreto e o espaço romanesco: a aventura do leitor. (Graciela Cariello). Universidade Nacional de Rosário. Lima Barreto e o espaço romanesco apresenta a deflagração de sentidos que uma obra literária abre para o leitor. Assim, Osman Lins acompanha nele as descobertas de uma leitura aprofundada. No livro, aliás, a escrita ensaística convive com a escrita literária, e até romanesca. Por outro lado, encontramos nele a elaboração teórica de uma categoria da análise literária: o espaço. Teoria, ensaio, romance: ler este livro, portanto, será também uma aventura em que nos depararemos com gêneros diversos, ultrapassando os limites de uma obra acadêmica.

8. Nove, novena: da construção narrativa em Osman Lins. (Elizabeth Hazin). UnB. A obra abordará panoramicamente o livro Nove, novena, detendo-se minuciosamente na segunda narrativa intitulada ”O ponto no círculo”. Partindo de manuscrito encontrado na Fundação Casa de Rui Barbosa, pretende-se transformar o cotejo de tal manuscrito com a obra publicada em chave para uma leitura mais aguda da mesma, enfatizando a construção narrativa osmaniana.

9. Mito, história e desamparo em Avalovara, o romance-palíndromo: da completude primeva à falta estrutural. (Luciana Barreto). UnB. Na reencenação alegórica do Paraíso terrestre, em Avalovara (1973), de Osman Lins (1924 – 1978), a dimensão da experiência, disposta no tempo histórico da ditadura militar brasileira, é contagiada pelas estratégias do fascismo: opressão e aniquilação da expressão e da liberdade. Engendrados por notável engenho composicional, os limites da linguagem e da representação e as categorias narratológicas de perspectiva, tempo e espaço podem ser compreendidos à luz do que chamamos de Poética da Queda, no território da falta, do degredo e do desamparo, bem como na ancoragem de alteridades e de resistência política por meio do corpo-palavra-erotismo. Nesse sentido, procedem as formulações de Jean-Paul Sartre, Walter Benjamin, Giorgio Agamben, George Bataille e Vladimir Safatle.

10. A máquina que precisou de engrenagem própria, depois de Avalovara: A Rainha dos Cárceres da Grécia. (Francismar Ramirez Barreto). Pós-Doutora UnB. A Rainha dos Cárceres da Grécia (1976), último romance publicado de Osman Lins, respondia (entre outras) à pergunta que alguma vez recebera o autor em uma entrevista, a respeito da motivação para a sua escrita: “Por que escreve ficção?”: “Quero deter-me um dia e escrever o que será uma resposta minuciosa a isto”. O comentário é de 1974. Entre este ano e 1975, Avalovara atingiu a marca dos 20.000 exemplares vendidos. O que poderia fazer o escritor para se renovar diante de tal feitio? Escrito em forma de diário, o novo romance assumiria a forma do ensaio e discutiria de um jeito aprofundado (e prático) elementos teóricos da ficção. Lins faz um romance com estrutura diversa da de Avalovara, no qual trabalha a noção de “níveis de leitura” e confere um tratamento experimental a temas intensamente ligados ao cidadão brasileiro. Para tentar uma aproximação a estes elementos será necessário contar (para começar) com o suporte de autores como Peter Burke (O mundo como teatro), Marthe Robert (Romance das origens, origens do romance) e Wolfgang Iser (O fictício e o imaginário).

11. O gesto de Osman Lins. (Ana Luiza Andrade). UFSC. Objetivos da aula: uma leitura benjaminiana do gesto de Osman Lins como pacto do escritor com seu destino literário desde Guerra Sem testemunhas (1973) até as “Últimas Anotações” (IEB/ICOL) passando por “Domingo de Páscoa” (1977) considerando o livro (Andrade, 2004a) na era da reprodutibilidade técnica (Benjamin, 1994 a) e o gesto de escritor reciclado (Andrade, 2004 a) como gesto épico (Benjamin,1994 b) dados os efeitos narcotizantes de um mundo consumidor (Buck-Morss,1996) levando em conta as crônicas que colocam uma sociedade em problemas inculturais tão graves.

12. Plasticidade e Corporeidade na ficção de Osman Lins. (Rita Lenira de Freitas Bittencourt). UFRGS. A aula irá explorar alguns cruzamentos, nos atos de escrita do pernambucano Osman Lins, entre os usos de recursos intermidiáticos que configuram a sua obra e os dados de corporeidade que a atravessam. Tomando como ponto de partida a proposta metodológica de aproximar um roteiro para televisão, uma peça de teatro e um conto, desenha-se uma leitura múltipla, conjugada na aproximação das distintas formas narrativas e suas operações específicas de sobreposições e montagens, aliadas à exploração verbo-visuais dos corpos postos em cena. Além disso, às investigações em torno dos elementos formais/imagéticos/sonoros, soma-se a perspectivava de um grande corpo múltiplo, sempre o mesmo e sempre diferido, visível na configuração de cenários e personagens, figurado em motivos que se repetem, sobretudo nos planos coletivos, mesmo que o conjunto analisado nesta aula seja uma pequena mostra dos elementos composicionais do autor. (Obras que serão analisadas: Nove, novena, Santa, Automóvel e soldado e Casos Especiais).