IEB5065 – História Transnacional da Educação: Agências, Métodos e Artefatos no Processo de Escolarização do Social (séculos XIX-XX)

Prof. Dr. Diana Gonçalves Vidal

4º feira |14h00 às 17h30

Início em: 12/03/2025

Modo Remoto

Objetivos:
Decorrente das investigações efetuadas no âmbito do Projeto Temático Sabres e Práticas em fronteiras: por uma história transnacional a educação (1810-…), a disciplina tem como objetivo geral apresentar e discutir aportes teóricos do campo da História da educação, da História e da Educação Comparada, bem como debater questões metodológicas para análise de temas relativos ao processo de escolarização entre os séculos XIX e XX, sob uma perspectiva da História Transnacional.

Justificativa:
A história transnacional pode ser, grosso modo, caracterizada como uma “história que cruza fronteiras”. No processo, ela redefine territórios e regimes territoriais, colocando as histórias nacionais no interior de contextos internacionais e apresentando relações transnacionais, conexões e dependências. Permite recolocar em cena atores e suas agências. Possibilita a análise da multiplicidade espacial das vidas dos sujeitos e suas experiências alternando de uma microescala para um macronível, o que inclui dimensões nacionais e globais, revelando uma variedade de escalas policêntricas em interação. Por fim, favorece os deslocamentos entre as questões de grande e larga escala e os estudos de caso individuais ou de pequenos grupos em procedimentos de vai-e-vem, realçando o exercício do historiador junto às fontes primárias. Majoritariamente desenvolvida nos Estados Unidos da América, Reino Unido, Alemanha e França, envolve iniciativas distintas como a comparação histórica, transferência cultural, circulação, conexões, sendo ao mesmo tempo uma forma moderna de história internacional.

A perspectiva transnacional é uma dimensão fundamental para a compreensão da configuração da escola moderna, em diversas partes do mundo, e de modelos de ensino que, desde o século XIX e sob a ação do Estado ou a partir de iniciativas particulares diversas, vêm constituindo saberes e práticas específicas. As múltiplas relações, que se estabelecem e se estabeleceram entre os países localizados na Europa e nos Estados Unidos e entre os que compõem o sul do continente americano, não se cingem a interpretações que tomam as experiências europeias e estadunidenses como “lições a serem aprendidas” por nações tidas como mais atrasadas, como é o caso do Brasil e de outros latino-americanos. Ao contrário, constituem tramas que enlaçam os países em um circuito internacional composto pela circularidade das trocas, do embaralhamento de pontos de partida e chegada, das mútuas influências que não se cingem ao paradigma da transferência. Este panorama teórico alarga o espectro da pesquisa para as diversas apropriações, entendidas como reinvenções criativas de modelos e práticas, atentas às realidades nacionais e às características particulares dos sistemas educativos, ainda que em seus momentos mais embrionários, e permite rever paradigmas no estudo sobre o passado (e o presente) da escola.

Conteúdo:
A disciplina está organizada em dois módulos. O primeiro explora aportes teóricos a partir de uma historiografia nacional e internacional, tangenciando os seguintes tópicos:

História transnacional: diferentes perspectivas e abordagens;
História transnacional da escola e da escolarização;
Comparação histórica, transferência cultural, apropriação, circulação e conexões;
História da escola para além e entre fronteiras;
Escola moderna e circularidade das trocas: escalas micro e macro.

Bibliografia:
ALTENBERND, Erik e YOUNG, Alex. The significance of the frontier in an age of transnational history, In: Settler Colonial Studies, vol 4, nr. 2, p. 127-150, 2014.
CARVALHO, M. M. C. O Manifesto e a Liga Internacional pela Educação Nova. In: XAVIER, M. C. (org.). Manifesto dos pioneiros da educação: um legado educacional em debate. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004.
FUCHS, Eckhardt, “History of education beyond the Nation? Trends in Historical and Educational Scholarship”, In: BAGCHI, Barnita, FUCHS, Eckhardt and ROUSMANIERE, Kate (ed), Connecting histories of education. Transnational and cross-cultural exchances in (post) colonial education. New York/Oxford, Berghahn Books, 2014.
HEIZER, Alda. A Exposição Nacional de 1908 : entre comemorações. Revista do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, n°2, 2008, p. 14-24.
JENKINS, Celia M. The professional middle class and the social origins of progressivism: a case study of the New Education Fellowship, 1920-1950. 439 f. Tese (Doutorado) –Institute of Education, University of London, 1989.
LARSSON, Yvonne. The world Education Fellowship: it’s origins and development with particular emphasis on New South Wales, the first Australian Section. Working Paper, no. 16. Australian Studies Centre. Institute of Commonwealth Studies, University of London, 1987.
NÓVOA, António Do mestre-escola ao professor do ensino primário. Subsídios para a história da profissão docente em Portugal (séculos XVI-XX). Lisboa: ISEF, 1986.
NÓVOA, A. Texts, images and memories : writing ‘new’ histories of education. In POPKEWITZ, T.S. ; FRANKLIN, B. ; PEREIRA, M. Cultural history and education: critical essays on knowledge and schooling. New York/London ; Routledge Falmer, 2001.
POPKEWITZ, T.S. Transnational as comparative history: (un)thinking differences in the self and the others. In FUCHS, E. ; VERA, E. R. The concept os the transnational in the history of education. Palgrave/Macmillan, 2017.
SOBE, Noah, Entanglement and transnationalism in the history of American education, In: POPKWEITZ, Thomas (ed.), Rethinking the history of education, Transnational Perspectives on Its Questions, Methods, and Knowledge. New York: Palgrave Macmillan, 2013, p.93-107.
SCHRIEWER, Jürgen. Estados-modelo e sociedades de referência: externalização em processos de modernização. In: NOVOA, António & SCHRIEWER, Jürgen (ed.) A difusão mundial da escola. Lisboa: Educa, 2000, p. 103-120.
SILVA, Vivian Batista da. A Didática e os textos para formar professores: o trabalho docente nos manuais pedagógicos (1870-1991). São Paulo: FEUSP, tese de Livre-Docência, 2017.
______. Saberes em viagem nos manuais pedagógicos: construções da escola em Portugal e no Brasil (1870-1970). São Paulo: Editora UNESP, 2018.
STEINER-KHAMSI, G. Reterritorializing educational import: explorations into the polices of educational borrowing. In: NÓVOA, A.; LAWN, M. (ed.) Fabricating Europe: the formation of an education space. USA: Klumer Academic Publishers, 2002, p. 69-86.
STRUCK, Bernhard, FERRIS, Kate & REVEL, Jacques, Introduction: Space and Scale. In: Transnational History, The International History Review, 33:4, 573-584, 2011.
VIDAL, Diana. A invenção da modernidade educativa: circulação internacional de modelos pedagógicos, sujeitos e objetos no oitocentos. In: Cláudia Engler Cury, Serioja Cordeiro Mariano. (Org.). Múltiplas visões: cultura histórica no oitocentos. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2009, v. , p. 39-58.
VIDAL, Diana & RABELO, Rafaela. A criação de Institutos de Educação no Brasil como parte de uma história conectada da formação de professores, no prelo.
WATRAS, Joseph. The New Education Fellowship and UNESCO’s programme of fundamental education. Paedagogica historica,v. 47, n. 1-2, p. 191-205, February-April 2011.
Belo Horizonte, Editora UFMG, 2ª. edição

Forma de avaliação:
A avaliação do curso será realizada com base na participação dos alunos ao longo do curso, bem como na apresentação de um ensaio, de no máximo 15 páginas (com bibliografia), em que se estabeleça a relação entre as discussões do curso e as pesquisas em andamento por parte dos discentes. Os conceitos finais serão atribuídos, na seguinte proporção até 40% para a participação em aulas e até 60% para o ensaio entregue com o trabalho final da disciplina

Observacão:
100% das aulas serão em modo remoto, síncronas e fazendo uso da plataforma Meeting. Fora do horário da aula, as interações serão realizadas por email. Em adicional, um canal do YouTube (https://www.youtube.com/@educacaoemfronteiras3426) foi criado para disponibilizar vídeos preparatórios às aulas. A frequência será apurada em cada aula, posto que todas são síncronas. Não há obrigatoriedade de abertura de câmeras por parte dos discentes

Tipo de oferecimento da disciplina: Não-Presencial